quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Natal no Seridó
O terreiro bem varridinho,
a vassoura encostada à janela da casa,
Bom-dia e Boa-noite saudando a todos,
o pote cheio, o caneco areado e
brilhando, a chaleira em cima do fogo
de brasa, a cama bem forrada com uma
colcha de fuxico, um vestido de chita
engomado e no camiseiro para a missa
da noite santa, um chapéu de couro
pendurado num mourão, uma imagem
de Nossa Senhora e o Menino Jesus na parede
enfeitada por um rosário de contas azuis,
um gato dormindo no tapete de retalho, um
chocalho sininando, um galo anunciado:
É Natal no Seridó.
Maria Maria
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Entre dois garfos
O espaço mínimo e fino dessa dimensão é o que me torna – um pouco – clariciana. Como dividir, já dividido, os átomos entre dois metais de textura e forma iguais? E como ser repetitiva num tempo em que a repetição não é mais um modelo de parceria?
Reitero. Reitero sempre e sempre me renovo como o copo de leite nascido no meu jardim de inverno – nesta terra de verões. Branco e virgem, taludo, gomoso. Primeira imagem de broto vesperado.
Aos poucos, nasce o verde que desafia o tempo e cresce intenso na sua missão de ser sempre a cor que o coração deseja.
No momento não consigo abstrair respostas do meu livro como os místicos. Acho- me perdida entre as páginas ou as respostas são parábolas para a minha mente pouco sagaz.
Juntaremos os garfos? Diminuiremos o espaço entre as fortalezas de metal? Ou faremos as construções parnasianas? Se colocarmos os garfos à prova do fogo, quem sabe não faremos deles um só garfo ou, ao final do processo de moldar o ferro ou o ouro não tenhamos construído um interessante poema parnasiano?
Maria Maria
sábado, 6 de dezembro de 2008
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
do pensamento
e, tal qual pássaro amarelo,
duvido do azul do céu,
do brilho das estrelas,
do reflexo do sol,
do raio e da luz.
Duvido da ânsia
de ser humana no universo
da mulher moderna.
Duvido da fúria do trovão,
da sede que sente o cacto,
da dor de tornar-me obsoleta
em décadas futuras.
Duvido do viço da minha pele
inabitada por fendas oblíquas,
do suor que desliza rio
pelo meu corpo.
Duvido do que sou nessa hora
sem tempo.
Duvido do tempo.
Tenho apenas uma única certeza:
Um poeta dorme em mim,
em dúvida.
Maria Maria
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
domingo, 16 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
O rio
que abraça
a ponte
que aponta
para o poente
não é o mesmo
rio de Heráclito,
mas o de todos.
O rio me laça
com suas lembranças
cravadas nas pedras
brilhantes do Cruzeiro,
do navio estático,
próximo ao Pereiro
das Galinhas da Angola
(do Seridó).
O rio
é resiliente:
se preserva e se guarda
e se mantém perene
na memória.
Só me falta a chuva
para eu banhar minhas bonecas
às margens desse rio.
Maria Maria
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
domingo, 2 de novembro de 2008
sábado, 11 de outubro de 2008
por uma eternidade quero morrer
e esvair-me em respiração:
pura, compassada, intensa.
Uma morte que eu preciso
ou que me precisa .
A morte na vida em vida
no sentido, na exatidão.
Quero morrer por um tempo
sem que o tempo me peça palavras
e não me meça, não tenho medida
para morrer.
Morro por querer viver
e com toda a chama da palavra amor
e com todo o ardor que sinto.
Quero morrer para viver.
Maria Maria
domingo, 28 de setembro de 2008
Nas crateras do meu tempo
tu ocupas o pensamento,
ruindo meu coração.
Nas crateras do meu tempo
vais rompendo esse silêncio
que sufoca minha razão.
Nas crateras do meu tempo
eis ladrão do meu lamento
que rouba a minha ilusão.
Nas crateras do meu tempo
vais compondo, preenchendo
um tempo que não diz não.
Das crateras do meu tempo
vou tangendo o sofrimento
que assola a minha paixão.
Das crateras do meu tempo
eu liberto, eu rebento...
abro os olhos pra’imensidão.
sábado, 20 de setembro de 2008
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Preciso urgentemente de um pintor:
que retoque,
toque,
pinte
o meu coração.
Preciso de um construtor
para ressurgir as ruínas
__ Vendaval que passou.
Preciso de flores na casa,
cortinas divididas
Um sino do vento
Pendurado à janela,
preciso!
Preciso de luzes de velas
para iluminar o telhado
e a mesa de jantar.
Preciso reconstruir
meu coração
com uma cama para amar
Preciso ser Cleópatra
e
em um tapete me enrolar.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Vou me perder essa noite.
Não quero bússolas nem rosas
dos ventos.
Terei as estrelas, os sapos
e corujas com os olhos cheios
de lua.
Carregarei na sacola
um pouco do nada ou
tudo.
Abrirei as janelas,
Sininhos poderão entrar
com as bruxas.
Vou me perder essa noite
para me encontrar ao raiar do dia
deitada sobre uma cama de girassóis.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Fodam-se todos!
O ódio rasga meu peito,
sobe para a mente e me domina.
A dor que eu sinto é boa, gostosa, me fascina.
Porque os políticos mandam os pobres para
guerra em vez de irem eles mesmos?
Porque as cobras são discriminadas
porque tem veneno?
E os homens
que o veneno deles está na alma
sofrida, torturada. As mortes causadas
são piores que qualquer veneno
e mesmo assim não são discriminados.
E os negros, pobres, gays não têm direitos?
Fodam-se se todos!
Foda-se o mundo!
Vivi, cresci , envelheci, morri!!!
E nunca fui feliz!!!
Que mundo patético, cheio de ilusão!
Para que viver em um mundo
onde sonhos são apenas sonhos?
Rico: mesquinho, ganha tudo
sem fazer esforço e acha
que é melhor que os outros
a ponto de pisar em todos.
Pobre: trata bem os outros,
trabalha e sabe o sofrimento
que a vida lhe traz.
Pobre quando vira rico
muda o caráter,
fica sem amigos de verdade.
Se esquece que um dia foi pobre,
vira um mesquinho.
Rico quando vira pobre
aprende a valorizar,
não só aquilo que se tem,
mas o que está ao seu redor.
Humanidade miserável!
Cada vento é um grito,
pedindo ajuda, pois o mundo
está morrendo.
Guerras, fome, a humanidade
tem o dom de causar tristeza.
Amigos? Nunca os tive,
mas consegui sendo outra pessoa.
Mas o que isso provou?
Apenas que sou fraco.
Hoje em dia, viver não é mais um desejo
e sim um sonho ruim, esperando
que um dia eu acorde e esqueça que dormi
e que um dia eu sonhei....
Artur Gomes Guirra (14 anos)
sábado, 2 de agosto de 2008
Às vezes ser pedra, queria: dura, firme e opaca. Queria ser, em certas temporadas, tão seca como uma folha outonal: stric, stric, stric...! Sem nunca ter sido primavera. Há horas em que eu gostaria de ser vidro para partir-me em fragmentos e deixar-me retesada sem a força do vento, impulsionando-me à frente. Tempo há em que a alma dilacera e o corpo chora, chora mesmo, pelos poros de uma tez amadurecida. E a chuva cai! Granizos rompem telhados que impedem uma noite de amor entre os gatos. Tudo na meia estação ou em um inverno de sentimento gélido, de amores mal amados. Mas, o verão me diz que a minha palavra nua sempre será perdoada e que, com ou sem gatos no telhado, terei uma linda noite de amor com meu parceiro imaginário.
Maria Maria
quarta-feira, 30 de julho de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Dormirei nua o sono das deusas
e acordarei girassóis do eterno
estado de adormecência.
Farei o sol girar em círculos
como lobos à caça de um beijo
e alçarei vôos como as gaivotas.
Não serei a escrava de um reino
escondido. Não serei.
Mas a rainha da janela.
Embora deseje-te à hora
em que o chão dorme, não
posso me dizer mais...
É tarde, não te canses do teu tempo.
Durma, nesse meio tom.
Durma, amado poeta!
domingo, 13 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Para os que pensam
Abençoados sejam
os trovões:
o brilho semiótico nas rochas,
o olhar selvagem do céu,
o êxtase dos brotos,
a sede de romper o chão,
a ponta do verde,
os círculos de fogo.
Abençoados sejam
os relâmpagos:
o germinar dos fios,
o deitar dos rebentos,
a ereção dos bulbos,
o sopro do vento,
a boca do tempo,
as vozes da manhã.
Abençoados sejam.
sábado, 5 de julho de 2008
quinta-feira, 3 de julho de 2008
domingo, 29 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
OU PSEUDOS
Ventre
Ui (!)
Fechei a porta
do meu ventre.
Cone
O teu cone cilíndrico,
arredondado faz–me
louca no teu cavalo alado.
A língua
A língua é um lençol
de seda que deita
e rola no meu desejo.
Lua
Embora seja tua
dê-me nua
a lua que te dei.
Zeus
São meus os teus
olhares que os trovões
apagarão.
Fome
Se a poesia me toma
e me deseja, é porque
sou fruta na tua mesa.
Deusa
Se deusa me tomas,
me usa! Mas bebes tu
o mel que te lambuza.
Maria Maria
terça-feira, 24 de junho de 2008
sexta-feira, 13 de junho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Não tenho telhados vermelhos
como Lisboa, ou de vidro
como o Louvre.
Minha arquitetura me permite
apenas ver o não dito sob o telhado
da choupana seridoana.
E tenho uma telha, um talhe
que se entorta a cada pegada de mim,
quando felina.
E tenho, o impossessivo.
O pouco de chuva que respinga
de minhas sendas.
E embora a pena de algum passarinho
desmai sobre meu leito,
tenho no peito, o pouco de mim.
Maria Maria
In Poetas vermelhos
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Quando meus pés acordam,
ainda limpando os olhos,
conseguem ver o invisível
que se fixa entre o real e o sonho.
Saem serelepes da cama,
entram na velha sandália de asas
e abraçam o mundo, como
se fosse só seu.
À noite, depois de roubar
o viço do dia, correm serpenteando
para seu lugar de aconchego:
lembram das vozes de outros pés,
da imagem de cada rosto,
do jeito sóbrio e lúgubre
de quem se esponja na palavra
o dia inteiro, e diz:
“Quero a extensão da minha liberdade”.
E, entre as letras e os fonemas
dormem o seu sono sagrado.
Maria Maria
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Havia uma mulher
cigânica,
cavérnica
e
domadora.
Amante
e amada
(pelos cabelos).
Uma mulher
que não usava xampus.
Havia...
A mulher de agora
tem uma calcinha na bolsa,
um sutien de silicone,
uma tatuagem
e não mora numa caverna.
A mulher de agora
é surrealista,
feminista,
liberta, mas
nunca deixará de ser mulher.
Maria Maria
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Hoje não me interessa pensar,
nem mesmo pescar algum boto.
Não me interessam as suas agruras,
os seus desconsolos ou soluços roucos.
Chega de tanta mentira,
o meu choro já me basta.
Eu já me basto.
Maria Maria
Foto: http://bonne.intelligence.free.fr/Kamouniak/pastels%20et%20encres/images/tristesse.jpg
sexta-feira, 9 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
terça-feira, 29 de abril de 2008
domingo, 27 de abril de 2008
quarta-feira, 23 de abril de 2008
sábado, 19 de abril de 2008
sexta-feira, 11 de abril de 2008
sexta-feira, 4 de abril de 2008
sábado, 29 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
quinta-feira, 6 de março de 2008
Não sei se quero falar da perda da minha asa, da plumagem que dourava no sol e do brilho que resplandecia toda manhã.
Eu vi o sertão acordar em mim, logo que o amarelo-canário apontava no horizonte e vi minhas nuances alçarem vôo num desespero sem fim. Senti meus músculos tremerem no canto oblíquo da boca e uma pequena cachoeira se formando na esquina dos meus olhos. Tudo vi, mas recuei o choro e bloqueei a palavra.
A dor vinha rasgando a estrada como faz uma acauã quando voa rasante pelos caminhos de pedra e volta furando, bicando, abrindo fendas...
Às vezes, há solidões merecidas! E há aquelas que se instalam estrangeiras e fixam moradia por tempo indeterminado. Pior ainda, são as que carregam no braço um pergaminho, contendo os itens a serem observados naquela nova estadia atemporal.
Mas o tempo não é conivente com a solidão. Ele é nômade e livre. E já está na hora de querer a minha asa de volta.