Mora em mim um todo de toda água, um galho de algaroba (que navega na enxurrada), um pingo de orvalho, Gargalheira em gargalhada.
Maria Maria
domingo, 16 de março de 2008
Pitomba
Aquele caroço de pitomba travou-me:
engoli o seu afã de ser sempre doce e lambi o tom opaco de teus dedos, refiz a textura das minhas linhas - diagonais- e chupei, mordi, senti, degluti...
engoli o seu afã de ser sempre doce, mas nem sempre carrego açucar em minhas veias.
Maria Maria
Foto: Lúcia Passos
sábado, 8 de março de 2008
TRIGO
Só a mulher é trigo,
só seu ventre multiplica,
por isso é eterna!
Maria Maria
quinta-feira, 6 de março de 2008
Asa
Não sei se quero falar da perda da minha asa, da plumagem que dourava no sol e do brilho que resplandecia toda manhã. Eu vi o sertão acordar em mim, logo que o amarelo-canário apontava no horizonte e vi minhas nuances alçarem vôo num desespero sem fim. Senti meus músculos tremerem no canto oblíquo da boca e uma pequena cachoeira se formando na esquina dos meus olhos. Tudo vi, mas recuei o choro e bloqueei a palavra. A dor vinha rasgando a estrada como faz uma acauã quando voa rasante pelos caminhos de pedra e volta furando, bicando, abrindo fendas... Às vezes, há solidões merecidas! E há aquelas que se instalam estrangeiras e fixam moradia por tempo indeterminado. Pior ainda, são as que carregam no braço um pergaminho, contendo os itens a serem observados naquela nova estadia atemporal. Mas o tempo não é conivente com a solidão. Ele é nômade e livre. E já está na hora de querer a minha asa de volta.
Maria Maria
quarta-feira, 5 de março de 2008
Formato de folha
Tem formato de folha a língua que falas quando:
à pele dos meus ouvidos dizes sons de outras línguas orientais, à boca de minha boca me leva aos sertões ocidentais.