terça-feira, 29 de abril de 2008

Sem perdão
É assim que me sinto:

partida.

Preciso do encantamento
da próxima palavra,
do êxtase rebelde
do meu coração,
da alegria na alvorada.

Não quero conhecer
a palavra perdão.
Do jeito que erro
e sou refletida na dor,
dos que me afligem;
quero a prisão.

Maria Maria

domingo, 27 de abril de 2008

Para antes

Um cheiro de longe
traz a chuva:

molha a mão
e semeia.

Traz o pão,
mata a sede.

Encharca a alma,
lava o rosto da terra.

Abre os olhos
do tempo.

Um cheiro de longe
carrega-me para antes.


Maria Maria

quarta-feira, 23 de abril de 2008


Sete versos de asas

No passo, entre o espaço
da chuvarada,
segui os passos de Fred Astaire
e vi o que se quer
(mesmo sem querer).
E, numa noite enchuvarada,
tirei o visgo da madrugada.

O lenço meigo
de minha fala
no rouco tom do coração
no chão de ramas
(de alvoradas)
perdi o sono, foi-se o caminho
num leve vôo, na imensidão.
Leitos de sonhos

De rio se enche meu oceano
de águas e claras
re-banho.

Não viro o bote,
derramo
e nado

em leitos de sonhos.


Maria Maria

sábado, 19 de abril de 2008

Serras de Martins


Conhecer Martins no Rio Grande do Norte
foi uma grande alegria para mim e para
a escritora paraibana Maria José Mamede.
Estávamos visitando a cidade e participando
de um projeto educativo promovido pela
Secretaria Municipal de Martins, o que muito
nos honrou, porque tivemos a oportunidade
de conhecer a história de perto, apresentar
nossos livros, compartilhar as experiências
de palavras e se encantar com os valores
humanos e culturais, além de lavar as retinas
com a belíssima imagem das serras que
circundam a região. Foi muito prazeroso para nós.
Agora é a vez dos nossos amigos verem de pertinho
o esplendor da paisagem de lá e sentirem o friozinho
maravilhoso que caracteriza essa parte do nosso estado.

Maria Maria





sexta-feira, 11 de abril de 2008


Os açudes dançam a colheita futura e eu me festejo com flores mornas.

Eu me celebro como os ramos de jurema que se deitam sobre as águas.


Maria Maria

quinta-feira, 10 de abril de 2008


Sonho de moça

Nas madeixas,
margarida.

Na boca,
um carmim.

Nos pés:
sandália de rabicho curtida,
para a novena,
e reza aos domingos.

Na mão,
um rosário azul e branco.

No pensamento,
o encontro junto à porteira.

No desejo:
um rio de águas claras.
E a moça sonhando com um vestidinho
Prêt – à – porter.

sexta-feira, 4 de abril de 2008


Pedra molhada

Sempre que o meu mar
se exila:

pedra molhada,
grão solidão,
areia insone,
pé-de-vento,
porto inseguro,
lua vaga vagueia,
olhar marujo,
flor e bulbo,
osso e cão.

Sempre que o meu mar
se exila...

navego.


Maria Maria