quarta-feira, 30 de julho de 2008

O instante

Que doce encanto,
o instante!

Nele, desfaço o compromisso
com o próximo segundo.

E te vejo canoa
às margens de um rio.

Maria Maria

segunda-feira, 21 de julho de 2008

É tarde, amado poeta!

Dormirei nua o sono das deusas
e acordarei girassóis do eterno
estado de adormecência.

Farei o sol girar em círculos
como lobos à caça de um beijo
e alçarei vôos como as gaivotas.

Não serei a escrava de um reino
escondido. Não serei.
Mas a rainha da janela.

Embora deseje-te à hora
em que o chão dorme, não
posso me dizer mais...

É tarde, não te canses do teu tempo.
Durma, nesse meio tom.
Durma, amado poeta!

Maria Maria

domingo, 13 de julho de 2008


Dia de sal

Esse dia de sal
me apavora,
assim como as procelas
em mar alto.

Assim como o medo
noturno em forma
de fogo no meio
do chão.

Esse sol que o dia
se nomeia é a dor
de quem espera
o ser amado na escuridão.

Maria Maria



segunda-feira, 7 de julho de 2008


Para os que pensam
tal qual os índios.

Círculos

Abençoados sejam
os trovões:

o brilho semiótico nas rochas,
o olhar selvagem do céu,
o êxtase dos brotos,
a sede de romper o chão,
a ponta do verde,
os círculos de fogo.

Abençoados sejam
os relâmpagos:

o germinar dos fios,
o deitar dos rebentos,
a ereção dos bulbos,
o sopro do vento,
a boca do tempo,
as vozes da manhã.

Abençoados sejam.

Maria Maria
(das tribos do Seridó)

sábado, 5 de julho de 2008

Silo de poesia

A poesia é
um silo
de amor
que se
constrói
ao longo
da existência
humana.

Maria Maria

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Esse poema é dedicado
ao erotismo sutil dos
poetas simbolistas.


A folha e a árvore

A folha folheou-se
na árvore.

Com a canção
de Eros, erotizou-se.

Colheu a folha,
a árvore.

E a bolha, de clara
virou gota.

E o gozo
era verde-folha.


Maria Maria


Foto: charquinho.blogs.sapo