sábado, 28 de fevereiro de 2009


Serpente dos Apertados

O rio dos Apertados
serpenteia o seu nome
e desce escamoso
sobre os rochedos.

E as claras em neve
desembocam nuas
sob a sombra tímida
dos arvoredos.

Maria Maria

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


Banho de rio nas águas dos Apertados

Banho de rio sobre as pedras.
Nus, você e eu.

E os peixnhos brincando
de infância.

Somos deuses sem nomes
eternizados naquelas rochas.

Maria Maria

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009




VOU-ME EMBORA

Vou-me embora
Vou-me embora
Levo Mário e Bandeira
Vou para as terras do sem-rei
Lá não terei amores
Nem o homem que escolherei

Vou-me embora
Vou-me embora
Levo Mário
e Bandeira
Levo a saudade da terra
Vou ultrapassar fronteira

Vou-me embora
Vou-me embora
Levo Mário e Bandeira
A poesia como escudo
O sonho de um dia mudo
Na ponta de uma estrela.

* Para Mário de Andrade
e Manuel Bandeira, meus
dois brilhantes da literatura
brasileira.

Maria Maria

sábado, 14 de fevereiro de 2009



A LÍNGUA É MINHA

A língua é minha!
Não importa onde ela passe.
Eu posso dizer o que penso
E fazê-lo, também.
A língua é sábia,
Libidinosa,
Perigosa.
A língua dá água na boca
E fala a língua da louca.
A língua míngua
Um desejo,
Um beijo...
A língua desliza
Por todos os continentes
E passa e cospe e brinca
Com os “esses” e “ais” que
Ela provoca.
A língua é o reflexo do
Desejo e goza dos outros.
A língua é doce.
A língua enrola e dobra
No bolso.
A língua ginga e pinga
E grita e diz como quer.
A língua é verso, é livre
Como o livro.
É língua sem linguagem
É órgão ou imagem.
Seja a língua o que quiser!

Maria Maria

sábado, 7 de fevereiro de 2009


Instintos

Nesse jardim de inverno
repousa um passarinho pardo.
As penas
(entre um marrom, um cinza e um marrom)
deitam-se sobre o barro úmido
nessa manhã sem estação.

Maria Maria

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


Gosto muito da poética de
Ramos Rosa, por isso, O
Espartilho faz questão de
colocar um dos mais lindos
poemas desse poeta português.

A noite chega com todos os seus rebanhos

Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um ímã que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.

de A Rosa Esquerda(1991)

Antonio Ramos Rosa

domingo, 1 de fevereiro de 2009


Cavalo de Tróia

Se eu fosse
Helena de Páris
teria sido
mais sagaz:

teria desejado só para mim
aquele enorme presente de grego
cheio de homens,
armados.

Maria Maria