sexta-feira, 29 de abril de 2011


O dorso dos anjos

Minhas asas foram cortadas
-ao nascerem, sob a lua-
naquele quinto de hora noturna.

Parte delas esvoaçava-se pelo chão.
Só penas e eu
sentimos pena de mim.

Com o tempo
- o tempo passa-
refiz meu dorso.

E minhas penas,
antes, espalhadas pelo chão,
viraram livros e voam na imensidão.

Maria Maria

sexta-feira, 22 de abril de 2011


Lugares

Hoje não é dia de receber cartas!
Talvez amanhã,
quando as palavras
se sentirem órfãs
de sentido ou
quando suas asas
puderem me levar
para os lugares
mais recônditos
de mim.

Maria Maria

terça-feira, 12 de abril de 2011


Anestésica

O reencontro com a tarde anestésica
me permite lembrar:

uma gota azul de chuva,
o canto singular de um galo,
uma queda repentina na cor do tempo,
o som masculino de trovão.

Lembro-me da rede-algodão,
da tarde seridoense e do meu lençol
xadrez-rosa-branco, amaciando
o meu sono-menino.

Maria Maria

quinta-feira, 7 de abril de 2011


Bicho

O amor me ronda,
feito bicho no cio,
mas estou indeterminada.

Não sei...
se amo mais o vento
ou a liberdade de voar".

Maria Maria

Foto: net